Sonho Americano

Para quem é nato na América todo sonho é americano, ou, só aos norte-americanos? Para os sul-americanos o sonho é Europeu, dada a história de colonização e imigração. Titanics de italianos desceram em terras de Pau-brasil em busca do sonho americano. Há quem diga que uma família inteira viveu embaixo de uma árvore por dois anos – tempos difíceis em que se plantavam abóboras pela colheita rápida e não construíam cabanas. Casas de pedra foram erguidas, o fascismo esquecido e o sonho de voltar nasceu.

Esqueceram de contar aos emigrantes tupiniquins que para além das belas praias, da cachaça e do Rio de Janeiro, o Brasil é desconhecido pelos povos feudais. Tantos tentam o sonho Europeu pelo contracheque em euros, ou tanto por falta de opção, e, deparam-se com distinção da realidade e da ilusão pertencente apenas ao mundo dos sonhos.

Julio – que não é bobo – enfrentou a pandemia e foi viver um experimento no velho mundo, mudou-se oito vezes! A primeira casa (ou edícula?), era limpa e confortável, úmida e sem sol, entre os limites de uma floresta e chuva constante. Um belo bosque para caminhar durante o dia, enquanto à noite imaginava as bruxas que cercavam aquelas árvores. Com a noite os esquilos cantavam e dançavam no telhado, só eram interrompidos quando um gato invadia a festa, as três horas da manhã aquele esquilo dava seu último suspiro sob as garras do felino.

A segunda mudança era um experimento de dez dias que acabou após a primeira noite. Depois de seus trinta anos, Julio, já não tolera certos desconfortos como quarto com cheiro de meia, pagar por toalhas, chuveiro do lado da privada que não funciona. Em desespero, faz sua terceira mudança para um pequeno pedaço de céu. Um grande, equipado, apartamento no centro que faz qualquer um sentir-se rico por três dias. Porém, como tudo, vai passar. A quarta, era uma casa parada no tempo. Desde os anos 70 sem internet, azulejo de vovó e a cama com uma sineta ao lado, onde certamente faleceu alguma senhora de 90 anos. A quinta era de um “mão-de-vaca”, uma casa engraçada, não tinha aquecimento — para economizar — , não tinha vida, não tinha nada. Nessa casa, Julio conheceu o Carbonara, o aperitivo e o alcoolismo. O álcool tem o poder de acalmar o coração, esconder os problemas de vista e deixar pessoas chatas insuportáveis. O senhorio, doravante chamado de Corcel, iniciava o dia “abastecendo o tanque” com vinho e qualquer líquido inflamável a disposição, para finalizar o dia com alguma discussão irracional, apagar no sofá ou brigar na rua com algum amigo. O álcool tem o poder de esconder os problemas de vista, mas não esconde uma pessoa problema dos outros.
Julio fugiu do problema em sua sexta mudança: “A Casa High-tech”. As maravilhas modernas como a fechadura eletrônica e luzes automáticas não são tão impressionantes se a louça continua suja na pia. Júlio precisa de um lugar um pouco mais definitivo, logo procura lugares por períodos mais longos. Na Europa todos somos iguais, quando se é turista, mas se seu aluguel é mensal, então, “desculpe, este apartamento não está disponível”, ou, “lamento, quero alguém com um salário italiano”. Em sua sétima mudança, Julio sonhava apenas com paz e tranquilidade, mas logo sentiu falta de banhos longos, uma geladeira e privacidade. Pediu a Deus que em sua oitava mudança encontrasse um lugar limpo, uma boa cama e Internet estável, mas não. Ele lutou, esfregou o chão, abriu as portas para sair o mofo, lavou a pia e o fogão. Agora anda pelas ruas estreitas de um centro histórico, desviando dos dejetos de cachorros que ninguém se importou em coletar, vivendo em um pequeno apartamento, com pintura em calcário original, uma cama funda, com barulho de reformas e a porta aberta para arejar. Julio deixou de sonhar.

Bem, não se dorme na Europa. O sonho é o calor do povo brasileiro, da sua educação e hospitalidade. O sonho é da areia quente no sol de uma praia brasileira. O sonho é americano.

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